Distinguir várias hierarquizações de valores, escolher e reter referentes éticos e culturais.
- Sou capaz de identificar diferentes valores culturais?
- Sou capaz de argumentar em contexto de tensão cultural?
- Sou capaz de intervir em contextos de tensão cultural?
Os valores, ao estarem submetidos às coordenadas do tempo e do espaço, não são universalmente válidos, já que vão variando tanto sincrónica como diacronicamente de cultura para cultura.
Se sincronicamente é-nos imediatamente perceptível a díspar diferença axiológica que nos separa da cultura islâmica; diacronicamente é-nos igualmente perceptível esta relatividade axiológica se se analisa, com algum rigor, os modelos valorativos da cultura portuguesa do século XX com a cultura portuguesa deste início do século XXI.
Eis aqui um excerto de um clássico da filosofia contemporânea, refiro-me concretamente ao texto Les enfants sauvages de Lucien Malson, que de forma contundente mostra a relatividade axiológica presentes nas mais diversas culturas mundiais.
O homem recebe do meio, em primeiro lugar, a definição do bom e do mau, do confortável e do desconfortável.
Deste modo os chineses preferem os ovos podres e os oceanenses o peixe em decomposição. Para dormir, os pigmeus procuram a incómoda forquilha de madeira e os japoneses deitam a cabeça em duro cepo.
O homem recebe do seu meio cultural um modo de ver e de pensar. No Japão considera-se delicado julgar os homens mais velhos do que parecem e, mesmo durante os testes e de boa-fé, os indivíduos continuam a cometer erros por excesso (. . .)
O homem retira também do meio as atitudes afectivas típicas. Entre os maoris, onde se chora à vontade, as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua partida. Nos esquimós, que praticam a hospitalidade conjugal, o ciúme desapareceu, tal como na Samoa; (…) a morte não parece cruel, os velhos aceitam-na como um benefício e todos se alegram por eles. Nas ilhas Alor, a mentira lúdica considera-se normal; as falsas promessas às crianças constituem um dos divertimentos dos adultos. O mesmo espírito encontra-se na ilha Normanby, onde a mãe, por brincadeira, tira o seio ao filho que está a mamar. (…) Entre os esquimós o casamento faz-se por compra. Nos urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outro homem. No Ceilão reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada. A proibição do incesto encontra-se em todas as sociedades, mas não há duas que o definam da mesma maneira e lhe fixem de modo idêntico as determinações exclusivas. O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres e nas ilhas Andaman, em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família como presentes, ou aos vizinhos, em sinal de amizade. A sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma característica feminina, como nos tchambulis, por exemplo; em que na família é a mulher quem domina e assume e direcção. (…)
Os diferentes povos criaram e desenvolveram um estilo de vida que cada indivíduo aceita – não sem reagir, decerto – como um protótipo.
O homem retira também do meio as atitudes afectivas típicas. Entre os maoris, onde se chora à vontade, as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua partida. Nos esquimós, que praticam a hospitalidade conjugal, o ciúme desapareceu, tal como na Samoa; (…) a morte não parece cruel, os velhos aceitam-na como um benefício e todos se alegram por eles. Nas ilhas Alor, a mentira lúdica considera-se normal; as falsas promessas às crianças constituem um dos divertimentos dos adultos. O mesmo espírito encontra-se na ilha Normanby, onde a mãe, por brincadeira, tira o seio ao filho que está a mamar. (…) Entre os esquimós o casamento faz-se por compra. Nos urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outro homem. No Ceilão reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada. A proibição do incesto encontra-se em todas as sociedades, mas não há duas que o definam da mesma maneira e lhe fixem de modo idêntico as determinações exclusivas. O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres e nas ilhas Andaman, em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família como presentes, ou aos vizinhos, em sinal de amizade. A sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma característica feminina, como nos tchambulis, por exemplo; em que na família é a mulher quem domina e assume e direcção. (…)
Os diferentes povos criaram e desenvolveram um estilo de vida que cada indivíduo aceita – não sem reagir, decerto – como um protótipo.
Lucien Malson, As crianças selvagens
Proposta de Trabalho:
Ao longo das nossas vidas - pelas imagens que nos vão aparecendo na televisão, pelos filmes que vemos no cinema, pelas relações que estabelecemos com os nossos amigos e vizinhos, pelas viagens que fazemos pelo mundo fora e pela nossa possível experiência de emigrante - vamos apercebendo-nos que nem todos comungam da nossa forma portuguesa de ser e de estar, dos nossos valores éticos e culturais, presentes musicalmente no fado ou gastronomicamente no Bacalhau à Brás. Por isso, aquilo que lhe proponho é que faça uma pequena reflexão sobre a pluralidade cultural e a correlativa relatividade axiológica, onde saliente vivências relativas a desafios multi-culturais.
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