quinta-feira, 4 de setembro de 2008

NG3 - DR4 - Opinião Pública e Reflexão Crítica

Competência e critérios de evidência

Identificar estereótipos culturais e sociais, compreendendo os mecanismos da sua formação e revelando distanciamento crítico.
  1. Sou capaz de identificar estereótipos culturais na comunicação social.
  2. Sou capaz de reflectir à luz de diferentes perspectivas culturais.
  3. Sou capaz de explorar os factores que determinam a formação da opinião pública.
Critério de Beleza


O conceito de beleza está intimamente relacionado com as coordenadas do tempo e do espaço, isto é, com as noções do «aqui» e do «agora», segundo a conceptualização orteguiana; assim o demonstra o facto de não ter sido entendido nem praticado da mesma forma pelas diferentes classes sociais ao longo dos tempos. Se nos séculos XVIII e XIX, a beleza feminina poder-se-ia ver cristalizada nas mulheres brancas e gordas da nobreza e da burguesia tradicionais, em contraste directo com a magreza e com a pele tisnada do sol de milhares de mulheres que trabalhavam no campo; no século XXI, paradoxalmente, este conceito ancorou-se às noções de moreno e elegância. Na raiz desta transformação sócio-cultural subjaz, por um lado, o poder económico de algumas classes sociais e, correlativamente, por outro, a tentativa de diferenciação social. Com efeito, porque é que o ideal de beleza dos séculos XVIII e XIX está subordinado à brancura da pele e a uma certa gordura, se não para demonstrar que as mulheres de uma determinada classe social não necessitavam de trabalhar no campo e tinham abundância de alimentos? E porque é que o ideal de beleza do século XX, está inexoravelmente vinculado às noções de moreno e elegância, se não porque as mulheres de determinadas classes sociais podem pagar dietas, nutricionistas, solários, cirurgias plásticas e férias paradisíacas em qualquer parte do globo?


Critério de Felicidade


«Antigamente (a felicidade) era entendida como um ideal só alcançável pelos filósofos contemplativos (Aristóteles), pelos que sobre-humanamente renunciavam a tudo (estóicos), pelos que, perante o carácter enganador do prazer, acabavam por fazer o mesmo (epicuristas), e por todos os que a reservavam para os «eleitos» e, para cúmulo, não neste mundo mas no outro (Escolástica).

Agora as coisas mudaram. A actual trivialização da palavra «feliz» («faz-me feliz, diz qualquer um após a consecução da coisa mais acessível) corresponde à democratização, à aproximação, à vulgarização das expectativas da felicidade. A felicidade parece estar aí, no voltar do ano, quando enfim, podemos adquirir o carrito, a casa própria ou o aumento do salário; a felicidade parece assim ter-se colocado já ao alcance de todas as fortunas (?) espirituais, desde que cresçam os aumentos materiais. Claro está que depressa as coisas se mostram mais complicadas porque, quando já se alcançou aquilo em que, ilusoriamente, púnhamos a felicidade, esta vai para mais longe; agora já não basta o carrito, porque faz falta um automóvel sumptuoso, a nossa vivenda precisa de ser uma luxuosa vila e a felicidade parece não ser já uma questão só de dinheiro, mas também de status: se pudéssemos chegar a ser ministros! (Este último exemplo não é bom: qualquer um pode chegar a ser ministro, como mostra a experiência.) A agridoce verdade é que, à medida que nos aproximamos da felicidade, ela se afasta mais e mais».

J. l. Aranguren - Propuestas morales.


Proposta de trabalho:

Muitos são efectivamente os estereótipos sobre os quais assenta a nossa sociedade portuguesa e a comunidade global, em geral.

Os conceitos correlativos e quase coextensivos de «beleza» e «felicidade» são duas noções que o comum das pessoas adopta irreflectidamente do meio em que está inserido e que acabam por ter efeitos desastrosos nos diversos domínios sociais. Pois, se o conceito de beleza preside em exclusivo à selecção e contratação de profissionais, como o parece indicar o facto de nas lojas de pronto-a-vestir já não existirem senão mulheres jovens e bonitas, e se o conceito de felicidade só se realiza na ostentação de riqueza, expressa na aquisição da casa e do carro de luxo, então todos aqueles que não preencham estes pré-requisitos são imediatamente excluídos da sociedade e, o que é pior, não podem aparentemente aceder à felicidade a que congenitamente estão chamados.

Deste modo, peço-lhe que reflicta e demonstre distanciamento crítico sobre estes e/ou outros estereótipos culturais, que, sendo aceites pela opinião pública, têm efeitos nefastos na sociedade em que vivemos.

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