sábado, 3 de janeiro de 2009

NG1 - DR1 - Liberdade e Responsabilidade Pessoal

Reconhecer constrangimentos e espaços de liberdade pessoal.
  1. Sou capaz de identificar situações de autonomia e responsabilidade compartilhadas, isto é, de identificar os meus direitos e deveres em contexto privado (família, amigos, vizinhos e condomínio).
  2. Sou capaz de compreender que a construção do Bem Comum se faz muitas vezes em detrimento do meu Bem Individual?
  3. Sou capaz de explorar exemplos de liberdade e responsabilidade pessoal?

Ag. E assim, pergunto-te: Existe em nós alguma vontade?
Ev. Não o sei dizer.
Ag. E queres sabê-lo?
Ev. Também o ignoro.
Ag. Então, nada mais me perguntes de agora em diante.
Ev. Por quê?
Ag. Porque não devo responder às tuas perguntas, a não ser que queiras conhecer as respostas. Além de mais se não queres chegar à sabedoria, é inútil conversar contigo sobre tais questões. Enfim, não mais poderás ser meu amigo, se não me quiseres bem. Pelo menos, considera o seguinte, em relação a ti mesmo: não tens vontade alguma de levar uma vida feliz?
Ev. Vejo que não se pode negar que todos tenhamos desejo disso. Continua, vejamos o que queres concluir por aí.
Ag. Eu o farei. Mas, antes, diz-me ainda: tens consciência de possuir uma boa vontade?
Ev. O que vem a ser uma boa vontade?
Ag. É a vontade pela qual desejamos viver com rectidão e honestidade, para atingirmos o cume da sabedoria. Considera, agora, se não desejas levar uma vida recta e honesta, ou se queres ardentemente ser sábio. Ou pelo menos, se ousarias negar que temos uma boa vontade, ao querermos essas coisas.
Ev. Nada disso nego, porque admito que não somente tenho uma vontade, mas, ainda, uma boa vontade.

Santo Agostinho, O livre-arbítrio

Dentro do pensamento filosófico ocidental, os conceitos de liberdade e de responsabilidade pessoal suscitaram desde sempre a atenção dos mais variados filósofos. Com efeito, desde a antiguidade grega até à contemporaneidade filosófica, passando pelas filosofias do medievo e da idade moderna, a questão da liberdade permaneceu como pano de fundo da reflexão filosófica.

A importância desta temática verifica-se, desde o primeiro instante, na subordinação do conceito de responsabilidade ao conceito de liberdade, já que a afirmação ou negação desde conceito implica a correlativa a afirmação ou negação daquele, dado que é impossível imputar responsabilidade a quem não seja livre para responder pelos seus próprios actos.

Uma das reflexões mais significativas sobre o tema pode encontrar-se no filósofo e teólogo medieval Agostinho de Hipona. A crítica que este filósofo dirige ao maniqueísmo, corrente que professou durante os seus anos de juventude, poder-se-ia ver cristalizada na afirmação absoluta da liberdade e responsabilidades humanas. Se a teoria maniqueísta negava a liberdade, ao pressupor a subordinação do dualismo antropológico corpo-alma ao dualismo onto-cosmológico Diabo-Deus, que expressa a exigência das boas ou más acções serem reflexo da acção de uma das referidas potências sobre a natureza humana; o teólogo de Hipona, situado nos antípodas da referida doutrina, afirma, pelo contrário, que o homem é essencialmente livre, já que tem uma vontade que capaz de escolher entre o bem e o mal.

Na actualidade, a reflexão filosófica, ao aceitar os contributos científicos de outras áreas do conhecimento humano, concretamente da psicologia, da sociologia e da antropologia contemporâneas, permitiu-se distanciar de uma concepção de liberdade e responsabilidade absolutas, para aproximar-se de uma concepção relativa da liberdade e da responsabilidade humanas, acentuando aculturação e a educação como momentos fundamentais na constituição de cada ser humano.

O homem não é um ser absolutamente livre. Nunca o foi, nem nunca o poderá vir a ser. É, isso sim, um ser condicionado. De facto, o homem é o que é, age como age, deseja o que deseja em virtude do seu próprio corpo e da cultura em que está inserido. Da mesma forma que um esquizofrénico não é livre para agir segundo as pautas de normalidade pré-estabelecidas, nem um “mártir islâmico” para não deixar de matar inocentes, já que em ambos os casos há um condicionamento anormal do corpo e da cultura, assim também cada ser humano não pode libertar-se em absoluto dos referidos condicionamentos. Contudo, a consciência deste fenómeno permite que a humanidade adquira consciência reflexa do seu modo de ser, que deve ser configurado e estruturado a partir de uma educação para a liberdade.



Propostas de trabalho:

1ª Proposta: Desde a infância até à velhice, muitos são os direitos e deveres que nos assistem e que devemos fazer cumprir. Por isso, proponho-lhe que indique os direitos e deveres inerentes a cada uma das fases da sua vida, compreendo a sua importância para a manutenção do bem-comum, dentro da família ou do grupo de amigos. Poderia completar a sua reflexão demonstrando como o conceito de responsabilidade pessoal exige uma educação para a liberdade, que, realizando-se no do tempo, ganha consistência no trânsito para cada nova etapa de vida: infância, juventude, idade adulta e velhice.

2ª Proposta: Dentro do contexto privado, o tema dos direitos e deveres pode igualmente ser analisado na relação que os condóminos mantêm entre si. Deste modo, tendo em consideração a legislação em vigor enuncie os seus direitos e deveres como condómino e demonstre a importância do seu cumprimento para a manutenção do bem-comum dentro do condomínio. Se tem experiências de vida relacionadas com o multiculturalismo, poderia demonstrar a importância que o diálogo intercultural tem para formação dos conceitos de liberdade e responsabilidade compartilhadas e para a manutenção de uma vivência pacífica entre condóminos.

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