domingo, 3 de agosto de 2008

NG5 - DR1 - Valores éticos e culturais

Competência e critérios de evidência

Distinguir várias hierarquizações de valores, escolher e reter referentes éticos e culturais.

  1. Sou capaz de identificar diferentes valores culturais?
  2. Sou capaz de argumentar em contexto de tensão cultural?
  3. Sou capaz de intervir em contextos de tensão cultural?

Os valores, ao estarem submetidos às coordenadas do tempo e do espaço, não são universalmente válidos, já que vão variando tanto sincrónica como diacronicamente de cultura para cultura.

Se sincronicamente é-nos imediatamente perceptível a díspar diferença axiológica que nos separa da cultura islâmica; diacronicamente é-nos igualmente perceptível esta relatividade axiológica se se analisa, com algum rigor, os modelos valorativos da cultura portuguesa do século XX com a cultura portuguesa deste início do século XXI.

Eis aqui um excerto de um clássico da filosofia contemporânea, refiro-me concretamente ao texto Les enfants sauvages de Lucien Malson, que de forma contundente mostra a relatividade axiológica presentes nas mais diversas culturas mundiais.



O homem recebe do meio, em primeiro lugar, a definição do bom e do mau, do confortável e do desconfortável.

Deste modo os chineses preferem os ovos podres e os oceanenses o peixe em decomposição. Para dormir, os pigmeus procuram a incómoda forquilha de madeira e os japoneses deitam a cabeça em duro cepo.

O homem recebe do seu meio cultural um modo de ver e de pensar. No Japão considera-se delicado julgar os homens mais velhos do que parecem e, mesmo durante os testes e de boa-fé, os indivíduos continuam a cometer erros por excesso (. . .)
O homem retira também do meio as atitudes afectivas típicas. Entre os maoris, onde se chora à vontade, as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua partida. Nos esquimós, que praticam a hospitalidade conjugal, o ciúme desapareceu, tal como na Samoa; (…) a morte não parece cruel, os velhos aceitam-na como um benefício e todos se alegram por eles. Nas ilhas Alor, a mentira lúdica considera-se normal; as falsas promessas às crianças constituem um dos divertimentos dos adultos. O mesmo espírito encontra-se na ilha Normanby, onde a mãe, por brincadeira, tira o seio ao filho que está a mamar. (…) Entre os esquimós o casamento faz-se por compra. Nos urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outro homem. No Ceilão reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada. A proibição do incesto encontra-se em todas as sociedades, mas não há duas que o definam da mesma maneira e lhe fixem de modo idêntico as determinações exclusivas. O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres e nas ilhas Andaman, em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família como presentes, ou aos vizinhos, em sinal de amizade. A sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma característica feminina, como nos tchambulis, por exemplo; em que na família é a mulher quem domina e assume e direcção. (…)
Os diferentes povos criaram e desenvolveram um estilo de vida que cada indivíduo aceita – não sem reagir, decerto – como um protótipo.

Lucien Malson, As crianças selvagens


Proposta de Trabalho:

Ao longo das nossas vidas - pelas imagens que nos vão aparecendo na televisão, pelos filmes que vemos no cinema, pelas relações que estabelecemos com os nossos amigos e vizinhos, pelas viagens que fazemos pelo mundo fora e pela nossa possível experiência de emigrante - vamos apercebendo-nos que nem todos comungam da nossa forma portuguesa de ser e de estar, dos nossos valores éticos e culturais, presentes musicalmente no fado ou gastronomicamente no Bacalhau à Brás. Por isso, aquilo que lhe proponho é que faça uma pequena reflexão sobre a pluralidade cultural e a correlativa relatividade axiológica, onde saliente vivências relativas a desafios multi-culturais.

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