sexta-feira, 8 de agosto de 2008

NG6 - Abertura Moral

«A verdadeira vida está ausente. Mas nós estamos no mundo. A metafísica surge e mantém-se neste álibi. Está direccionada para o outro lado, para o d'outro modo, para o outro».

Emmanuel Lévinas, Totalité et infini



O outro levinasiano, sendo imediatamente inteligível como o outro homem, permite uma reconfiguração do pensamento filosófico ocidental, pensado a partir da identidade do próprio sujeito que reflecte e pensa. A partir deste autor, deixa de ser lícito pensar-se as relações humanas e a ética, em geral, a partir do próprio eu, mas sim a partir do outro que apela à amizade e à partilha.

Não é casual nem fortuito que as bases deste pensamento estejam intimamente ligadas à génese da própria identidade humana, já que esta irrompe a partir do contacto do eu com a própria alteridade, isto é, com os outros.

Dado que, por um lado, o outro é primeiro relativamente ao eu e dado que, por outro, nesta relação a primazia do outro se estabelece como origem da própria identidade, cada homem está desde logo obrigado ao acolhimento da própria alteridade que geneticamente o constitui.

Deste modo, a alteridade presente no outro exige uma abertura moral por parte de cada sujeito ético, consubstanciada numa atitude de acolhimento e respeito.

Esta perspectiva ética é tanto mais significativa quanto é formada pelo próprio autor a partir do seu cativeiro forçado pelas tropas nazis. E é precisamente quando parecia que a afirmação da identidade judaica perante as forças nazis deveria ser reforçada e defendida, que Lévinas irrompe no panorama ocidental propondo a subordinação do eu (identidade) ao outro (alteridade), subordinação que giza a partir da noção de cuidado ao próximo.

1 comentário:

Lurdes Estrela disse...

Parabéns pelo bog, que só agora descobri por indicação da formadora de cidadania e profissionalidade do CNO de Ansião.
É uma óptima ajuda para nós formandos!